Chegou a época do ano que para muitos é angustiante, o Natal e Ano Novo!
Seja pelo fato de sentir falta dos que já partiram, por detestar os encontros em família ou por não poder ter os encontros em família, seja lá qual for o motivo, sempre existe algo com que nos angustiar.
Bom! Mas deixemos um pouco de lado os motivos que cada um tem para que esta data seja tão ruim e tentemos olhar de forma mais psicanalítica a questão.
A ideia é que possamos aqui investigar um pouco mais sobre este afeto, a angústia, que para Lacan é o afeto que nunca mente.
Se passamos o ano todo correndo atrás ou não, de comprir a rigorosa lista que fizemos no final do ano anterior, a chegada do Natal é aquele momento em que inevitavelmente nos deparamos com o insucesso desta fantasia, de que este ano se daria conta da lista tão bem planejada e como se não bastasse nos vemos sentados à mesa na Ceia de Natal, tendo que ouvir as vitórias muito elaboradas nos discursos dos familiares que aproveitam deste momento para se livrar também da sensação do mesmo fracasso.
Para os neuróticos parece imprescindível transformar desejo em demanda. Movimento este que muitas vezes procuramos no outro, não à toa vemos brigas grandiosas no final do ano, movidas por debates acalorados de quem tem mais razão e se não nos envolvemos somos bombardeados por perguntas tendenciosas. É sempre aquela sua tia separada, que foi traída e vive agora amargurada que te pergunta, quando você vai encontrar alguém para se casar e formar uma linda família?
Questão esta que você se obrigada a responder, ainda que seja sobre o desejo dela de ter permanecido casada e em uma linda familia, assim como continuar indo a Ceia todos os anos ainda que te pareça uma tortura. E aqui cabe uma pergunta importante a ser feita. POR QUE?
Se superamos a Ceia de Natal, consciente ou inconscientemente, nos vemos elaborando a nossa nova lista de desejos, a qual temos a certeza de que fará o Novo Ano ser fantástico.
Curiosamente a palavra fantástico é derivada do gregro phainein e significa fazer aparecer ou mostrar, assim como a palavra fantasia que possui a mesma origem e significado.
Para a psicanálise a fantasia é aquilo que criamos para dar conta ou tapar o buraco de nossa falta e que nos é apresentado por meio de nossa angústia, logo temos outra pergunta importante a qual podemos nos fazer.
Qual a FANTASIA criamos para que o novo ano seja FANTÁSTICO e possamos encobrir nossas faltas?
A resposta para esta questão pode levar anos para ser descoberta e exige certa coragem, mas se chegamos ao ponto de ousar-lá fazer, já é meio caminho andado.
Claro que para muitos o final de ano traz muitas coisas boas e momentos agradáveis, e que bom!
Quanto a mim deixo a vocês a única coisa que posso lhes oferecer, alguns questionamentos e um possível desejo de um Feliz Natal e Ano Novo!
Autor: Kelly Ruivo, psicanalista em formação pela EPC, graduada em Administração pela UMESP.
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