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O que é Sintoma para a Psicanálise?

Kelly Ruivo

Enso

Sintoma.


O sintoma para a psicanálise está presente desde início da psicanálise quando em 1886 Freud se torna docente na Universidade de Viena e começa seus estudos com Charcot sobre os casos de Histeria. Na época os mesmos eram vistos apenas com neuroses do sistema nervoso que se manifestavam por meio de neurastenias em homens e mulheres.

Neste momento o sintoma está associado a natureza de ataques, a anestesia, os distúrbios da visão e etc…

Nesta época Freud era aluno e participante ativo das pesquisas e tradutor de algumas das obras de Charcot. Foi a partir dos seminários das terças-feiras apresentados por Charcot que Freud começa sua investigação aos sintomas dos casos de histeria tratando-os por meio da hipnose e sugestões. 

No texto Histeria de 1888, Freud descreve a sintoma e define os sintomas histéricos ainda vindos da modificação fisiológicas do sistema nervoso:

A histeria baseia-se total e inteiramente em modificações fisiológicas do sistema  nervoso; sua essência deve ser expressa numa fórmula que leve em consideração as condições de excitabilidade nas diferentes partes do sistema nervoso.

Neste mesmo texto Freud faz um estudo detalhado dos sintomas histéricos e diferencia estes sintomas das neurastenias.

São descritas por Freud como sintomas, ataques convulsivos, zonas histerógenas, distúrbios da sensibilidade, distúrbio da atividade sensorial, paralisias e contraturas.

Nesta época, Freud conclui que a eficácia do tratamento para remoção dos sintomas era feita pela hipnose e sugestão, com isso se acreditava que era possível transferir o sintoma para outra parte do corpo enquanto a parte afetada se normalizava. 

Neste mesmo texto vemos um avanço importante dos sintomas histéricos, ruma a sua origem psíquica, sendo assim possível concluir que os sintomas histéricos não são de ordem orgânica. É a partir daqui que os sintomas histéricos no aspecto inconsciente do sujeito começam a ser investigados:

Por outro lado, a evolução dos distúrbios histéricos muitas vezes exige uma espécie de incubação, ou melhor, um período de latência, durante o qual a causa desencadeante continua atuando no inconsciente.

Minha intenção com este apontamento sobre os sintomas histéricos estudados por Freud na época que esteve na Universidade de Viena com Charcot, não é focar na histeria, mas na origem do sintoma na história da psicanálise. Faz-se necessário revisitar as origens para que possamos entender qual sua importância para a clínica psicanalítica. 

O sintoma, é de fato, uma questão fundamental para a psicanálise , na medida em que o surgimento da própria prática clínica  psicanalítica se deu  justamente através e em  consequência das interrogações propostas a Freud pelas pacientes histéricas que , por sua vez, manifestaram sintomas bastante interessantes para a comunidade médica europeia do final do século XIX. ( Conde, 2014, pág. 10). Este é o ponto de partida para que Freud tome como investigação os sintomas para a criação da psicanálise em 1896, fundamentando suas ideias no campo na existência do inconsciente e na manifestação do desejo, que na época estava ligado a uma etiologia sexual.

Até este momento trouxe para este estudo sobre os sintomas , os aspectos fisiológicos e a importância destes para o início dos estudos sobre a histeria e a origem da psicanálise. A Partir de agora faz se necessária falar das investigações feitas por Freud e Breuer ligados aos aspectos inteiramente psíquicos nos casos de histeria.


Estrutura do sintoma.


É a partir do famoso texto “Estudos Sobre Histeria” publicado em 1895 por Freud e Breuer que encontramos conceitos fundamentais para a elaboração deste estudo, um deles o de “Ab-Reação”². Os autores contam que a aparição de sintomas físicos nos pacientes histéricos acontecem por um trauma psíquico, em seguida os mesmos descobrem que os sintomas desaparecem a partir do momento que a lembrança evocada no momento presente de sua primeira aparição é invocada. 

Assim os autores constatam que a linguagem desempenha um papel determinante a um efeito que eles denominam como “catártico”, uma reação de descarga emocional. 

Mas o ser humano encontra na linguagem o equivalente do ato, equivalente graças ao qual o afeto pode ser verdadeiramente “ab-reagindo” mais ou menos da mesma maneira. Em outros casos, são as palavras que constituem o reflexo adequado, por exemplo, as queixas, a revelação de um segredo opressivo (confissão). Quando não ocorre esse tipo de reação pelo ato, pela palavra e, nos casos mais leves, pelas lágrimas, a lembrança do acontecimento preserva todo seu valor afetivo”(p.6).

Freud vai publicar vários artigos entre 1895 a 1899, para elaboração das suas ideias a respeito dos sintomas histéricos, além das fobias e as obsessões que aparecem pela primeira vez em seus estudos. Freud evolui sua investigação à medida que trabalha com Breuer. É constatado por ele que os casos patológicos são devido, a uma quantidade de energia acumulada que podia escolher seu destino, ou pela via psíquica ou somática. O mesmo desenvolve a noção do “Princípio de inércia”, “Processo Primário” e " Processo Secundário ". 

O princípio de inércia é a liberação do excesso de energia que se torna então energia livre, o mesmo evolui para o processo primário em que o escoamento da energia psíquica acontece, porém o aparelho psíquico não poderia suportar uma quantidade excessiva, por isso Freud postula um sistema regulatório que passa o processo primário para o secundário este processos foi elaborado por ele para  explicar o funcionamento do aparelho psíquico e a forma da conversão somática.  

Freud se propõe agora a questionar qual o papel do indivíduo nestes processos, para isso ele vai chamar de “ego” uma instância que prepondera a incidência dos processos secundários sobre os processos primários. Outra função essencial do “ego”, consiste na “prova da verdade” que permite o indivíduo diferenciar aspectos externos das alucinações ou de uma lembrança proveniente do interno.

O ego tenta esquecer qualquer excitação de energia causada pelas representações intoleráveis que despertam afetos dolorosos que gostaria de esquecer, a este processo em que o ego não consegue tolerar Freud dá o nome de “neuropsicoses de defesa”.

Aqui faço um paralelo a interpretação de Lacan em relação ao ego e mecanismo de defesa. Segundo o mesmo todo este processo se resume em que o eu (ego) está estruturado no sintoma. Para ele, o sintoma humano  por excelência, é a doença mental do homem, ao mesmo tempo o eu quanto sintoma privilegiado poderia remeter a forma que este último pode adquirir como expressão de conflito, de tensão emergente entre forças. Por seu caráter de que algo emerge, o sintoma é por excelência, aquilo que se mostra, que aparece, como também é o eu, que se apresenta diante de um analista e que fala de um sintoma.(Conde, 2014, p 18)

Ainda que Lacan se opusesse à ideia de cura do sintoma na ampliação do inconsciente, ele valorizava as operações que resultaram no sintoma. Neste sentido concordava com Freud de que o eu era o resultado de forças e operações que passavam pelo inconsciente e que deveriam se submeter.


O retorno do recalcado e o sintoma. 


O recalque é um processo pelo qual pensamentos, desejos ou memórias inaceitáveis para a consciência são reprimidos no inconsciente. Isso ocorre devido ao conflito entre impulsos instintivos (como os sexuais ou agressivos) muitas vezes ligados às exigências sociais ou morais.Os conteúdos recalcados permanecem no inconsciente, fora da consciência do indivíduo.

O retorno do recalcado refere-se ao processo pelo qual os conteúdos recalcados tentam ressurgir para a consciência. Isso pode ocorrer de várias formas, como lapsos de memória, sonhos, sintomas neuróticos, atos falhos (erros na fala ou ações) e comportamentos repetitivos.

Sintomas, como fobias, obsessões e somáticos, são manifestações do retorno do recalcado. Esses sintomas são formas indiretas de expressão dos desejos reprimidos.

Este acontecimento é relatado em um de dos casos mais famosos Freud, o de Anna O, onde a própria paciente relata sua melhora ao usar o termo “limpeza de chaminé” em que se referia a rememoração por meio de associação livre (pela fala) dos acontecimentos ligados a aparição dos sintomas. 

Seguindo ao pensamento de Freud, Lacan vai nos dizer que o mecanismo de funcionamento psíquico inclui o recalque de algo que é expulso da consciência do sujeito que fica fora dela sem estar ligado a um representante e que só se realiza depois de uma realização simbólica no futuro, via integração à história do sujeito. 

Freud nos mostrou que a palavra deve ser encarnada na própria história do sujeito. Se  o sujeito não a encarnou, se essa palavra é amordaçada e se encontra latente nos sintomas do sujeito, devemos nós encontrá-la, como a bela adormecida no bosque, ou não?³

Enquanto o trauma não é integrado pelo sujeito sempre está fadado a retornar “só-depois”.

Podemos assim concluir que tanto Freud quanto Lacan concordam que a falta da representação de um simbólico que traga a luz o que foi reprimido pelo sujeito que se defende dos conteúdos traumáticos inaceitáveis para a consciência, o sintoma, é a forma de compromisso entre o corpo e o psiquismo para a elaboração de uma trauma. 

Freud  observou um determinismo simbólico na forma  assumida pelo sintoma, cuja conversão é feita por um mecanismo da simbolização. 

Ao qual Lacan (1955-56) também menciona que o sintoma  seria a linguagem que permite exprimir o recalque, ou seja, o sintoma teria uma lógica que , em análise, exprime um só depois de uma operação de recalque.


Castração


Em Freud.


Antes que possa seguir com meu estudo sobre os sintomas nas estruturas, é necessário um pequeno resumo sobre o processo de castração. 

É após a passagem do desenvolvimento infantil e a passagem pela 3 fases sexuais denominadas com, oral, anal e falica a entrada do indiviu no chamdo Complexo de Édipo. 

No contexto do Complexo de Édipo, Freud argumentou que a criança enfrenta uma ameaça imaginária de castração. Para o menino, ele temendo que seja  retirado seu pênis e para a menina, a ameaça surge da descoberta da falta do pênis. Freud argumentava que o medo da castração (ou a perda imaginada do órgão genital) é um fator que molda o comportamento e os pensamentos da criança durante o desenvolvimento.

Freud explorou como as ansiedades em torno da castração podiam se manifestar em sintomas como fobias, obsessões ou comportamentos compulsivos em adultos. Ele via esses sintomas como expressões de conflitos não resolvidos relacionados ao Complexo de Castração na infância.

Para Freud após a passagem pelo complexo de castração que o indivíduo é capaz de estabelecer uma relação com as normas e com a leis (interdição ao desejo incestuoso) regidas pelo que ele determinou de “Superego”, processo este que estrutura as Neuroses.

Já nas psicoses o processo de castração masca a desorganização do indivíduo com uma perda simbólica da realidade, o que promove uma desordem psíquica.

A perversão é colocada por Freud como o negativo da neurose, onde o indivíduo passa pelo processo de castração mais a nega, se fazendo ele próprio a lei. Muitas vezes é este indivíduo que mantém o sentido de poder absoluto de seus desejos sexuais. 


Em Lacan 


Lacan olha o Complexo de Édipo não pela via do mito, mas pela metáfora da entrada do nome do pai, após a criança perceber a posição fálica de sua mãe. 

A partir do advento simbólico do ter ou não ter o falo (penis), o pai não se apresenta mais como um privado, abrindo brechas para a mãe, que não tem o falo, possa desejar tê-lo, e o filho, igualmente desprovido, possa também cobiçá-lo. É com a circunscrição da dialética do ter que as primeiras identificações podem ser efetuadas pelas crianças⁴. 


Nome do pai

Figura 1 - Fórmula - Nome do Pai


Desta forma a substituição do significante fálico pelo significante nome do pai fará com que o falo se torne inconsciente (recalcado), nas estruturas neuróticas. 

Na psicose o que nós temos é a foraclusão do Nome do Pai sobre a organização psíquica, o sujeito se vê frente a um pedido, mas acaba atravessando o vazio.  

Na estrutura perversa, o Nome-do-Pai não desempenha seu papel típico de estabelecer a lei e a ordem simbólica na psique do indivíduo. Em vez disso, na estrutura perversa, há uma relação distorcida com o Nome-do-Pai, onde ele pode estar ausente, fraco ou pervertido de alguma forma.

A partir destes processos, é que seremos capazes de falar  qual a importância do sintoma para cada uma das estruturas apresentadas e porque o mesmos pode ser denominado como uma forma de compromisso que permite a cada indivíduo se estabeleça como um sujeito para a psicanálise.

Pois é a partir da entrada no Nome do Pai que o indivíduo tem sua entrada nos três registros denominados por Lacan como Imaginário, Real e Simbólico. 

Esquema R

Figura 2 - Esquema R


Neste primeiro gráfico temos a relação da criança e a sua mãe. No eixo imaginário a criança é alienada com o objeto materno. A mãe se apresenta como objeto faltante, isso faz com que a criança tenha que se deslocar para o objeto de preenchimento da falta. O visionamento deste par está representado pela sustentação de um falo imaginário que neste gráfico está representado pelo símbolo   .

A triangulação mãe-falo-criança estrutura neste primeiro momento o esquema R.

Em um segundo momento surge então o pai, esta entrada é fundamental a entrada do simbólico, já que o pai põe limite na relação anterior. O que promove um deslocamento imaginário do falo em que a mãe permaneceu até então para o pai o que lhe falta. Agora a transposição do registro imaginário para a realidade - do imaginário para o real.

Grafico

Figura 3 - Gráfico


Após a consolidação dos registros anteriores, um novo suplementar aparece: o registro simbólico. A criança é levada a renunciar como objeto de desejo da mãe, reconhecendo o pai como aquele que tem o falo e também como aquele pode dar a sua mãe. Isso provoca um deslocamento angustiante chamado por Freud de angústia de castração, pois aqui a criança deve sair da posição de assujeitada, como objeto de desejo para se dirigir a uma posição de sujeito capaz de lidar com suas frustrações.

Na terceira configuração a criança desloca em direção ao pai, o novo movimento da criança terá que se dirigir a  uma mãe que já não possui mais o lugar imaginário anteriormente sustentado. 

Imaginário, Real e Simbólico.

Figura 4 - Imaginário/ Realidade/ Simbólico


Ainda existe uma segunda variação modificadora do esquema acima. No lugar inicialmente marcado pela mãe imaginária será constituída uma outra representação, agora como um imagem especular (i). Além disso, no lugar  onde a criança inicialmente se situava, ou seja no lugar de assujeitamento se localiza a representação imaginária de seu próprio eu. Em contrapartida, o lugar ocupado pela criança na interface entre real e simbólico, algo da ordem de um ideal de eu (I) deve se apresentar como um tal ideal que se dirige sempre com os olhos voltados para a função simbólica do pai. A representação desse Ideal serve como um referente para que a criança busque meios de ser reconhecida por esse pai, já que o mesmo se torna possuidor do falo: Por essa razão, o Ideal do eu I vem se inscrever, portanto logicamente em oposição ao eu `m` no espaço simbólico.⁵

Variação modificadora

Figura 5 - Variação modificadora


As transições dos registros, primeiramente imaginário para se chegar ao registro simbólico, estão agora em intercessão com o Nome-do-Pai como significante.

Na última versão do esquema R, o que se percebe é justamente o lugar dado ao falo simbólico, representado pela função paterna a partir da inscrição do Outro no campo da linguagem - pai portanto investido de significação Fálica.

Esquema R

Figura 6 - Última versão do esquema R


Mas se tratando da foraclusão o que vamos perceber é um abalo nesta estrutura do sujeito, para isso Lacan modifica agora o esquema R da seguinte maneira.⁶

Esquema I

Figura 7 - Esquema I


Sendo foracluído, esse significante não se apresenta como substituto do desejo da mãe. Isso acarreta uma falha na estrutura, por não conseguir se transpor para o vértice em que o significante Nome-do-Pai poderia estar inscrito, a criança fica presa em uma relação alienante junto a mãe. Sem uma intermediação possível toda uma estrutura dessa relação se funda e se cristaliza. Um verdadeiro buraco formado nas duas extremidades do esquema terá importantes consequências na articulação entre os três registros.


Sintoma nas Estruturas


É na entrada do sujeito em sua estrutura que ele se torna um ser faltante, a esta falta ou furo que sempre é um enigma. 

O sintoma para Lacan tem dois sentidos: Nome do pai e como maneira de gozar do inconsciente. Ele ainda ressalta que todo sintoma está no lugar do Um, e por isso produz satisfação, porém esta satisfação é sempre parcial, ou seja, todo desejo é desejo da falta a qual o sintoma vem de(anunciar. (conde, 2014,p 51)

Lacan ainda ressalta que, por ser gozoso, o sintoma causa um desconforto, no 

sujeito, que rompe com o princípio de prazer, mas para que isso aconteça, é preciso que ele esteja escrito na lei. 

Neste sentido o sintoma busca fazer sair este objeto na significação, mas toda a multiplicação de sentido que possam chegar a engendrar não chega a tamponar aquilo do que se trata nesse buraco de uma perda central. (Conde, 2014, p 48)

Nos casos de perversão o que nós temos é o sujeito que nega sua própria castração e produz como gozo, a sua posição fálica o fetche como um sintoma.

Sendo assim, o que podemos concluir é que o sintoma representa a uma estrutura na medida que ele diz a estrutura do sujeito, ou seja a estrutura de um sujeito pode ser revelada por um sintoma.


O Sinthoma (Synthome)


Lacan (1975-76) se refere ao Sinthoma em seu de seminário  23 intitulado como Sinthoma, como a palavra grega escrita posteriormente ao sintoma.

Ao contrário do que venho apresentando neste estudo, o sintoma desde a origem da psicanálise como aquilo que deveria ser retirado ou “curado” no sujeito, o Sinthoma que Lacan se refere é aquele enodamento que tem como função a reparação do Nome-do-Pai, referindo-se a um texto joyceano (“helenice”) texto considerado por ele um Sinthoma.

A este Lacan vai dizer que é aquele sinthoma que faz parte do sujeito e por tanto não pode ser retirado por ser o sujeito. 

A esse enodamente ele vai dar o nome de Nó Borromeu ou Borromeano.

Nó Borromeu

Figura 8- No Borromeu


O que nos mostra a figura acima é o tipo de enodamento formado pelos três registros na formação do nó borromeano. A sobreposição de um registro em relação ao outro ( e não um cruzamento) formando uma cadeia. 

A principal característica dessa primeira formação é que se caso haja uma quebra de um dos laços os demais são quebrados. 

A uma estrutura que se deslizam livres uma da outra, imaginário e simbólico, e a ex-sistência de um terceiro aro representado pelo real. Essa característica faz com que ele se mova em torno dos outros dois, que diante dessa presença procuram resistir frente a força de junção. É a função do real ocasionar : um buraco na cadeia. O real representa o ponto de três cruzamento dos elos.

É por entre o buraco no meio que o real revela o furo fundamental. Ex-sistência  é a impossibilidade do sujeito de  articular no simbólico que não pode ser representado pelo sujeito sobre a linguagem.

O sintoma se torna o quarto aro vindo a substituir o Nome-do-Pai. Sendo o sintoma presente constituição do sujeito este se faz o suporte para os três nós, que tem a função de sutura-los e mantê-los sobrepostos, é neste momento que a palavra sintoma é substituída pela palavra Sinthoma.

Quarto nó

Figura 9 - Quarto Nó


Lacan chama de Sinthoma o quarto aro que faz possível determinar seu papel na estruturação do sujeito. O quarto aro não é mais representante da significação da função Pai na ordem simbólica, mas sim o Pai-do-Nome que dá a letra ao Sinthoma - o Pai simbólico, Pai imaginário e o Pai real.


Lacan e Joyce

 

Lacan em seu seminário de n° 23 vai se ocupar de investigar a obra do escritor James Joyce para desenvolver O Sinthoma. Neste seminário a pergunta de Lacan seria se Joyce teria uma estrutura psicótica ou não, sem nunca ter havido um desencadeamento de uma crise.

Joyce em sua vida teve um pai falido e descompromissado com a lei, afetuoso sim, mas a afetividade nesse caso não foi suficiente para se instaurar um nome que se faz Pai para um filho. Joyce vai para a Irlanda em uma escola jesuíta, e declara guerra a tudo que vem deste pai falido: via letra e obra. Lacan ressalta o enorme desejo de Joyce de ser um artista, desejo este que servia para compensar este pai.

Joyce encontrou em sua obra uma forma de demitir seu genitor.

Lacan conclui que Joyce nunca passou pela estrutura psicótica, sem dúvida a obra de Joyce é seu sinthoma e fez as vezes do Nome-do-Pai.

O que é da ordem da letra e não do significante foram então os veículos de transmissão para o desejo de Joyce. Ele se realiza pelo Nome-do-Pai a partir da arte, logo encarnar o Sinthoma pela arte de escrever. Lacan faz uma discussão a esse respeito levando-se em conta as característica estrutural do ego de Joyce. Para ele o ego de Joyce tem o equivalente do Sinthoma, isso quer dizer que o ato de escrever promove um contorno no furo da cadeia borromeana.7

Escrever e se fazer falar ao público, tem o efeito de suplência em se fazer, ele, nome próprio a obra - Nome do Pai.

Lacan ainda vai nos dizer, “O que supus há pouco, é que eu reduzia o sinthoma, que está aqui, a alguma coisa que corresponde não a elucubração do inconsciente, mas a realidade do inconsciente ``.(p. 98) Por tanto o sinthoma não se trata de um desconhecimento do inconsciente , mas um conhecimento para o sujeito, afinal o que proporciona o final de uma análise é um, “saber fazer aí com o sinthoma”.

Vale ressaltar que para Lacan é de carácter inconsciente, pois é a partir do que se sobressai, que pode ser feito de alguma forma um trabalho cuidadoso e sensível de manipulação, próprio do artífice. Ao mesmo tempo, é preciso que o sujeito, ao saber fazer aí com o sinthoma, possa sustentar sua posição no mundo.


Conclusão


O estudo aqui apresentado não teve a intenção de esgotar todas as possibilidades de investigação de um tema tão importante e amplo como o Sintoma.

Aqui foram apenas abordadas a sua origem a partir de Freud e a forma como Lacan desenvolve seu pensamento a partir, não mais, de algo a ser curado mas, algo a ser considerado como parte do sujeito.

Para Lacan a possível retirada do sintoma do sujeito o enlouqueceria.

Dentro de nossa prática clínica na contemporaneidade , todo aquele que chega para uma análise, chega falando dos seus sintomas, cabe a nós analistas não tomarmos aquilo como verdade para prática, mas algo a ser ouvido que contado a partir da história de nossos analisandos, já que o sintoma é sempre um porta voz de uma verdade não toda, que não para de ser escrita.

O mesmo é a não relação sexual, o furo, a falha na linguagem ao qual o sintoma tenta suturar.


Referências


CONDE, Helena. Sintoma em Lacan - editora Escuta - ano 2014 - São Paulo.


FREUD, Sigmund. Histeria, Obras Completas de Sigmund Freud - Vol I - Imago Editora; 1a edição - Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Editora Imago - ano 1996 - Rio de Janeiro.


FONSECA, Rodrigo Otávio. A Constituição Originária do Mecanismo de Rejeição (Verwerfung) pela Perspectiva de Wilfred Ruprecht Bion e Jacques Lacan. São Paulo. Tese Doutorado em Psicologia Clínica, 2014.


LACAN, Jacques. Seminário O Sinthoma. Rio de Janeiro. Editora: Jorge Zahar, 2007 QUINODOZ, Jean Michel. Ler Freud. São Paulo. Editor: Artmed. 2007.



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